Principezinho nas organizações: Book Review "Principezinho põe a gravata"
Borja Vilaseca...
Vilaseca é um escritor, professor, conferencista e empreendedor na área do Desenvolvimento Pessoal e Autoconhecimento. Outrora foi jornalista, sendo que ainda faz publicações no El País Semanal (EPS). Destina-se, portanto, a promover a “mudança de paradigma social”.
O livro...e algumas reflexões...
O livro
encontra-se dividido em capítulos, como se um diário se tratasse. Os presentes
anos de 2002/23 correspondem à transformação da SAT, sendo que os restantes ao
passado de Pablo, 1999.
Começamos, pela
apresentação do presidente da empresa, Jordi Amorós que funciona como o ponto
de viragem ocorrido na consultora: o início de uma nova vida e de uma nova
organização. – “quem não vive para servir, não serve para viver”.
Seguidamente, pela
entrevista ao que viria a ser o “responsável pelas pessoas e valores da
organização”. Pablo, foi o responsável pela REVOLUÇÃO na empresa de Jordi. Percebe-se,
através desta, a alteração e evolução do processo de recrutamento. Além das
qualificações e da experiência profissional, valorizam-se as qualidades
pessoais, as aprendizagens ao longo da vida, entre outros. Há, também, uma
desvalorização pela forma física como se apresenta, bem como do típico discurso
gestual e politicamente correto, enaltecendo a ideia da diminuição do fosso,
entre patrão e empregado aquando de uma entrevista e após a mesma.
Posteriormente, há
a apresentação do típico líder clássico, Ignacio Iranzo. Descreve-se como eram
as relações hierárquicas entre este e os colaboradores, bem como entre estes
últimos, regidas “pela lei da selva”. Caracteriza-se o espaço de trabalho,
desprovido de luz, reduzido a cubículos, secretárias e computadores. Ainda detinham
um horário rígido, onde as horas de término pareciam nunca existir.
Face a esta
descrição da consultora, Pablo projetiva, sucintamente, o seu plano para o
futuro da SAT, colocando as pessoas como foco principal – “O essencial é
invisível aos olhos”.
Faz-se uma
interrupção no livro, de modo a ficarmos a conhecer melhor Pablo Príncipe,
responsável pela revolução desta consultora. Uma breve história de vida,
retrata-nos uma pessoa moldada pelos estereótipos da sociedade e família, que estudou
e trabalhou onde lhe impuseram.
Pablo coloca o seu
plano em ação. Começa com um inquérito a todos os colaboradores, no que
concerne às condições de trabalho que detinham: desde o porteiro, Benjamin, à
secretária, Verónica Serra, passando por todos os consultores, tais como
Manuela Marigorta e Alicia, que não se quis manifestar. Sintetizando as suas
respostas, passaram todas por reclamações acerca do mau ambiente de trabalho,
falta de espaço e de organização por parte da chefia; ausência de recompensas e
de autonomia dos funcionários. Por fim, queixas do líder de “mau feitio e mão
dura”.
Posto isto, Pablo considerou
que o início da Mudança assentava na “tomada de consciência” de cada um que
temos de ser “cúmplices da felicidade”, proporcionando um ambiente laboral mais
humano e, consequentemente, uma maior produtividade e competitividade da
empresa. Num primeiro passo, começou por organizar um curso de “introdução ao
autoconhecimento e ao desenvolvimento pessoal”.
Inicia-se, então o
curso, excetuando somente a presença de Ignacio. Falou-se de HONESTIDADE,
HUMILDADE e CORAGEM, proporcionando-nos a capacidade de conseguir “olharmo-nos ao
espelho”, estarmos predispostos “à aprendizagem e à transformação”, tendo “valentia
e coragem” de enfrentar os nossos medos e inseguranças e reconhecer,
humildemente, que não detemos conhecimento sobre tudo, estamos em constante
experimentação e compreensão do desconhecido. De seguida, abordou-se o
AUTOCONHECIMENTO, no sentido de atingir a felicidade, o equilíbrio e bem-estar
interiores. Desmistifica-se o facto de este conceito supracitado, não ser um “ATO
EGOÍSTA”, mas sim o primeiro passo para conseguirmos tratar bem os outros e
evitar a nossa “REATIVIDADE” em prol da “PROATIVIDADE”. Reconhecer que, por
vezes, reagimos de forma negativa quando têm atitudes menos boas para conosco (Reatividade)
será o primeiro passo para treinarmos a nossa Proatividade, tornando o que nos
acontece em algo mais são e construtivo. Tudo isto, encontra-se correlacionado
com a interpretação que fazemos da realidade, totalmente subjetiva. Aquilo que
nos acontece é imutável, já as nossas ações dependem, inteiramente, de nós.
Igualmente, nesta
formação, aborda-se o EGOCENTRISMO, como bloqueador da Proatividade e
acompanhado da “Ignorância”, de não saber quem somos, e a “Inconsciência” de
não queremos saber das consequências das nossas ações/atitudes. Contrariamente,
o “Poder da Aceitação”, de termos capacidade de compreendermos aquilo que nos
acontece, “sermos donos de nós mesmos”.
Um ênfase dado,
também, à função das Crises Existenciais. Acabamos, apenas, por questionar a
nossa forma de olhar para a vida, quando chegamos ao nosso ponto de saturação,
daí demonstrarmos uma grande resistência à MUDANÇA. Tiram-nos os pilares que
suportam as nossas ideologias e valores, cessam a nossa “Zona de Conforto”,
conduzindo á necessidade de “mudança e evolução”. Cria-se uma espécie de “ponte
entre a vitimização e a aceitação da responsabilidade” e “é então que podemos
desfrutar da vida com o coração”.
O autor, faz uma
paragem no curso de Príncipe e volta novamente e analisar o seu passado, criticando,
mais uma vez os rótulos impostos pela sociedade através da (suposta)
“perfeição” da família Príncipe.
Voltando ao curso
sobre o “processo gradual de mudança e crescimento pessoal”, inicia a segunda
parte onde realça a importância de colocarmos em prática as nossas
aprendizagens, “praticar, cometer erros e continuar a treinar”. Funcionam de
forma circular e não linear.
Assumirmos a
responsabilidade pessoal, nesta lógica, conduz à felicidade, à paz e a reagir em
“servir os outros”. O MEDO, a IRA e a TRISTEZA mostram-se como obstáculos à
responsabilidade social, a ser proativo. Alimenta, portanto, o nosso EGO, “a
nossa parte inconsciente, mecânica e reativa”. No entanto, somos seres providos
de CONSCIÊNCIA, temos um instinto de sobrevivência física, como também, emocional,
logo capacita-nos para “transformar a nossa existência numa obra de arte.”.
Claro que para atingirmos este estádio, a nossa IDENTIDADE passa por várias
fases: 1ª INOCÊNCIA; 2ª IGNORÂNCIA; 3ª SABEDORIA.
Esta última fase,
corresponde, então, quando somos capazes de “olhar-nos ao espelho”, uma viagem
que se inicia com o despertar da nossa consciência, o saber lidar com o nosso
ego, não o alimentando e manter contacto com a nossa essência.
No que diz respeito
a outros conceitos analisados durante esta formação, Pablo considera que a
FELICIDADE e a PAZ INTERIOR consistem no “estado natural do nosso ser”.
Distingue a DOR, como sendo a nível físico de SOFRIMENTO, a nível emocional.
Refere-se à VERDADE como a informação que testamos, que é “posta em prática”,
sendo esta a “filha da nossa essência”, distanciando-se da MENTIRA, “filha do
nosso EGO”.
Pablo enfatiza,
igualmente no seu curso, a necessidade de nos auto abastecermo-nos
emocionalmente, afirmando mesmo que a nossa verdadeira luta é dentro de nós,
ainda que as relações que estabelecemos com os outros sejam os nossos
principais “conflitos emocionais”. No “CÍRCULO DE INFLUÊNCIA” encontram-nos confortáveis,
enquanto nos “CÍRCULOS DE PREOCUPAÇÃO”, saímos da zona de controlo. Nestes
últimos, revela-se ainda mais a necessidade de “cultivar (esta) ENERGIA VITAL,
conciliando a vida pessoal, familiar e profissional. Claro que tudo isto só é
possível com TREINO.
Para terminar esta
formação, Pablo aborda a capacidade de termos COMPAIXÃO, sermos capazes de
aceitar tudo e todos, tal como somos, uns verdadeiros proativos.
Posto isto,
verificamos a verdadeira MUDANÇA na Consultora SAT. A “Sala das máquinas”, onde
todos os trabalhadores estavam confinados aos seus cubículos, passou à “Sala de
aprendizagem”, um espaço bem mais amplo, arejado e natural. Estabeleceu-se uma
Gestão por objetivos, onde os colaboradores gozavam de uma maior autonomia, organizados
por departamentos, em constante coordenação e numa plena integração. Há uma
clara mudança inerente à questão da gravidez. Outrora, naquela empresa, nestas
circunstâncias era motivo de despedimento. Foi, também, criado um Sistemas de
Recompensas, que não existia.
No que concerne a
esta mudança supracitada, poder-se-á aplicar a Teoria de Mudança de Robert
Quinn. Houve uma primeira fase marcada pela Incerteza, relativa à contratação
de Pablo e da aplicação das suas novas ideias. Foi visível, pela renitência de
Jordi aquando do seu recrutamento e, ainda, na incerteza sentida entre os
colaboradores aquando da alteração do horário. A transformação viu-se a
acontecer na adesão aos Cursos lecionados por Pablo e, por último, a
Rotinização desta mudança, os horários mais flexíveis, uma maior coordenação e
trabalho de equipa, o constante desenvolvimento das pessoas, que inclusive
voaram para outras empresas, entre outros.
Novamente, um
aparte relativo à experiência de Pablo. O primeiro emprego deste apresentado
como o oposto do que se verificava agora na Consultora. Consideravam que o
sistema do MEDO era sinónimo de trabalho fácil por parte dos trabalhadores” –
“tontos úteis”. Uma empresa onde se pautava pela falta de valores humanos, da
qual Pablo acabou por se despedir, iniciando-se a seu verdadeiro processo de
MUDANÇA.
Voltando, à mudança
da SAT, verificou-se a promoção dos colaboradores, uns inclusivamente partiram
para ouras empresas. No recrutamento, procura-se além de bons profissionais,
“seres humanos preocupados com o mundo que os rodeava”.
A Mudança de
Ignacio Lorenzo, encerrou este livro. Fulcral, também, na Mudança geral da consultora.
Pelas palavras deste – “(…) penso que a
mudança será permanente”. Após realizar uma viagem proposta por Pablo e Jordi a
Madagáscar, Ignacio mudou completamente o seu EU: mais feliz, mais estável, com
uma nova visão da vida e do trabalho, muito menos materialista. Extinguiu-se a
imagem de líder clássico de Ignacio.
Através desta
personagem, conseguimos traçar, claramente a “curva” de Kübler-Ross, entrando
em CHOQUE, com a contratação e ação de Pablo dentro da Consultora. De seguida,
entra em negação com as mudanças implementadas, ao nível do horário e recusa-se
mesmo a participar nos cursos de formação. Cada vez mais frustrado e depressivo
descarrega a sua raiva e ira nos restantes colaboradores, inclusivamente
descredibiliza as novas políticas de Pablo para a empresa. Depois de bater no
fundo, decide seguir o conselho de Jordi e Pablo e viver a experiência de uma
viagem a Madagáscar. Regressa, totalmente mudado, começa por pedir perdão pelas
suas más atitudes, para com os colaboradores e integra-se e acompanha a mudança
pela qual passou a SAT. Aliás, a própria viagem de Ignacio, pode-se inserir
nesta curva, passando por estas mesmas fases: a negação (o querer desistir),
frustração e depressão (aperceber-se da sua pessoa na solidão), decisão e
experiência (autoconhecimento, assimilação da felicidade, bem-estar e paz
interior, etc) e integração (carta de pedido de desculpas aos colaboradores,
acompanhar a mudança na SAT).
A minha experiência enquanto leitora...
Referências Bibliográficas...
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