terça-feira, 7 de fevereiro de 2023

"Principezinho põe a gravata"- book review por Filipa Rodrigues

Principezinho nas organizações: Book Review "Principezinho põe a gravata"


   

 Borja Vilaseca...

    

Figura 1: borjavilaseca.com 


Vilaseca é um escritor, professor, conferencista e empreendedor na área do Desenvolvimento Pessoal e Autoconhecimento. Outrora foi jornalista, sendo que ainda faz publicações no El País Semanal (EPS).  Destina-se, portanto, a promover a “mudança de paradigma social”. 



O livro...e algumas reflexões...


Figura 2: Borja Vilaseca - Wook

        


    Trata-se da história de consultora SAT, espanhola, que com nomes fictícios, o jornalista Borja Vilaseca, retrata a sua evolução reformatória, relativamente à forma como laborava e tratava os seus colaboradores. Numa narrativa secundária, fala-nos, ainda, da história de vida do responsável por esta MUDANÇA, estabelecendo uma analogia entre este e o Principezinho, de Antoine de Saint-Exupéry

O livro encontra-se dividido em capítulos, como se um diário se tratasse. Os presentes anos de 2002/23 correspondem à transformação da SAT, sendo que os restantes ao passado de Pablo, 1999.

Começamos, pela apresentação do presidente da empresa, Jordi Amorós que funciona como o ponto de viragem ocorrido na consultora: o início de uma nova vida e de uma nova organização. – “quem não vive para servir, não serve para viver”.

Seguidamente, pela entrevista ao que viria a ser o “responsável pelas pessoas e valores da organização”. Pablo, foi o responsável pela REVOLUÇÃO na empresa de Jordi. Percebe-se, através desta, a alteração e evolução do processo de recrutamento. Além das qualificações e da experiência profissional, valorizam-se as qualidades pessoais, as aprendizagens ao longo da vida, entre outros. Há, também, uma desvalorização pela forma física como se apresenta, bem como do típico discurso gestual e politicamente correto, enaltecendo a ideia da diminuição do fosso, entre patrão e empregado aquando de uma entrevista e após a mesma.

Posteriormente, há a apresentação do típico líder clássico, Ignacio Iranzo. Descreve-se como eram as relações hierárquicas entre este e os colaboradores, bem como entre estes últimos, regidas “pela lei da selva”. Caracteriza-se o espaço de trabalho, desprovido de luz, reduzido a cubículos, secretárias e computadores. Ainda detinham um horário rígido, onde as horas de término pareciam nunca existir.

Face a esta descrição da consultora, Pablo projetiva, sucintamente, o seu plano para o futuro da SAT, colocando as pessoas como foco principal – “O essencial é invisível aos olhos”.

Faz-se uma interrupção no livro, de modo a ficarmos a conhecer melhor Pablo Príncipe, responsável pela revolução desta consultora. Uma breve história de vida, retrata-nos uma pessoa moldada pelos estereótipos da sociedade e família, que estudou e trabalhou onde lhe impuseram.

Pablo coloca o seu plano em ação. Começa com um inquérito a todos os colaboradores, no que concerne às condições de trabalho que detinham: desde o porteiro, Benjamin, à secretária, Verónica Serra, passando por todos os consultores, tais como Manuela Marigorta e Alicia, que não se quis manifestar. Sintetizando as suas respostas, passaram todas por reclamações acerca do mau ambiente de trabalho, falta de espaço e de organização por parte da chefia; ausência de recompensas e de autonomia dos funcionários. Por fim, queixas do líder de “mau feitio e mão dura”.

Posto isto, Pablo considerou que o início da Mudança assentava na “tomada de consciência” de cada um que temos de ser “cúmplices da felicidade”, proporcionando um ambiente laboral mais humano e, consequentemente, uma maior produtividade e competitividade da empresa. Num primeiro passo, começou por organizar um curso de “introdução ao autoconhecimento e ao desenvolvimento pessoal”.

Inicia-se, então o curso, excetuando somente a presença de Ignacio. Falou-se de HONESTIDADE, HUMILDADE e CORAGEM, proporcionando-nos a capacidade de conseguir “olharmo-nos ao espelho”, estarmos predispostos “à aprendizagem e à transformação”, tendo “valentia e coragem” de enfrentar os nossos medos e inseguranças e reconhecer, humildemente, que não detemos conhecimento sobre tudo, estamos em constante experimentação e compreensão do desconhecido. De seguida, abordou-se o AUTOCONHECIMENTO, no sentido de atingir a felicidade, o equilíbrio e bem-estar interiores. Desmistifica-se o facto de este conceito supracitado, não ser um “ATO EGOÍSTA”, mas sim o primeiro passo para conseguirmos tratar bem os outros e evitar a nossa “REATIVIDADE” em prol da “PROATIVIDADE”. Reconhecer que, por vezes, reagimos de forma negativa quando têm atitudes menos boas para conosco (Reatividade) será o primeiro passo para treinarmos a nossa Proatividade, tornando o que nos acontece em algo mais são e construtivo. Tudo isto, encontra-se correlacionado com a interpretação que fazemos da realidade, totalmente subjetiva. Aquilo que nos acontece é imutável, já as nossas ações dependem, inteiramente, de nós.

Igualmente, nesta formação, aborda-se o EGOCENTRISMO, como bloqueador da Proatividade e acompanhado da “Ignorância”, de não saber quem somos, e a “Inconsciência” de não queremos saber das consequências das nossas ações/atitudes. Contrariamente, o “Poder da Aceitação”, de termos capacidade de compreendermos aquilo que nos acontece, “sermos donos de nós mesmos”.

Um ênfase dado, também, à função das Crises Existenciais. Acabamos, apenas, por questionar a nossa forma de olhar para a vida, quando chegamos ao nosso ponto de saturação, daí demonstrarmos uma grande resistência à MUDANÇA. Tiram-nos os pilares que suportam as nossas ideologias e valores, cessam a nossa “Zona de Conforto”, conduzindo á necessidade de “mudança e evolução”. Cria-se uma espécie de “ponte entre a vitimização e a aceitação da responsabilidade” e “é então que podemos desfrutar da vida com o coração”.

O autor, faz uma paragem no curso de Príncipe e volta novamente e analisar o seu passado, criticando, mais uma vez os rótulos impostos pela sociedade através da (suposta) “perfeição” da família Príncipe.

Voltando ao curso sobre o “processo gradual de mudança e crescimento pessoal”, inicia a segunda parte onde realça a importância de colocarmos em prática as nossas aprendizagens, “praticar, cometer erros e continuar a treinar”. Funcionam de forma circular e não linear.

Assumirmos a responsabilidade pessoal, nesta lógica, conduz à felicidade, à paz e a reagir em “servir os outros”. O MEDO, a IRA e a TRISTEZA mostram-se como obstáculos à responsabilidade social, a ser proativo. Alimenta, portanto, o nosso EGO, “a nossa parte inconsciente, mecânica e reativa”. No entanto, somos seres providos de CONSCIÊNCIA, temos um instinto de sobrevivência física, como também, emocional, logo capacita-nos para “transformar a nossa existência numa obra de arte.”. Claro que para atingirmos este estádio, a nossa IDENTIDADE passa por várias fases: 1ª INOCÊNCIA; 2ª IGNORÂNCIA; 3ª SABEDORIA.

Esta última fase, corresponde, então, quando somos capazes de “olhar-nos ao espelho”, uma viagem que se inicia com o despertar da nossa consciência, o saber lidar com o nosso ego, não o alimentando e manter contacto com a nossa essência.

No que diz respeito a outros conceitos analisados durante esta formação, Pablo considera que a FELICIDADE e a PAZ INTERIOR consistem no “estado natural do nosso ser”. Distingue a DOR, como sendo a nível físico de SOFRIMENTO, a nível emocional. Refere-se à VERDADE como a informação que testamos, que é “posta em prática”, sendo esta a “filha da nossa essência”, distanciando-se da MENTIRA, “filha do nosso EGO”.

Pablo enfatiza, igualmente no seu curso, a necessidade de nos auto abastecermo-nos emocionalmente, afirmando mesmo que a nossa verdadeira luta é dentro de nós, ainda que as relações que estabelecemos com os outros sejam os nossos principais “conflitos emocionais”. No “CÍRCULO DE INFLUÊNCIA” encontram-nos confortáveis, enquanto nos “CÍRCULOS DE PREOCUPAÇÃO”, saímos da zona de controlo. Nestes últimos, revela-se ainda mais a necessidade de “cultivar (esta) ENERGIA VITAL, conciliando a vida pessoal, familiar e profissional. Claro que tudo isto só é possível com TREINO.

Para terminar esta formação, Pablo aborda a capacidade de termos COMPAIXÃO, sermos capazes de aceitar tudo e todos, tal como somos, uns verdadeiros proativos.

Posto isto, verificamos a verdadeira MUDANÇA na Consultora SAT. A “Sala das máquinas”, onde todos os trabalhadores estavam confinados aos seus cubículos, passou à “Sala de aprendizagem”, um espaço bem mais amplo, arejado e natural. Estabeleceu-se uma Gestão por objetivos, onde os colaboradores gozavam de uma maior autonomia, organizados por departamentos, em constante coordenação e numa plena integração. Há uma clara mudança inerente à questão da gravidez. Outrora, naquela empresa, nestas circunstâncias era motivo de despedimento. Foi, também, criado um Sistemas de Recompensas, que não existia.

No que concerne a esta mudança supracitada, poder-se-á aplicar a Teoria de Mudança de Robert Quinn. Houve uma primeira fase marcada pela Incerteza, relativa à contratação de Pablo e da aplicação das suas novas ideias. Foi visível, pela renitência de Jordi aquando do seu recrutamento e, ainda, na incerteza sentida entre os colaboradores aquando da alteração do horário. A transformação viu-se a acontecer na adesão aos Cursos lecionados por Pablo e, por último, a Rotinização desta mudança, os horários mais flexíveis, uma maior coordenação e trabalho de equipa, o constante desenvolvimento das pessoas, que inclusive voaram para outras empresas, entre outros.

Novamente, um aparte relativo à experiência de Pablo. O primeiro emprego deste apresentado como o oposto do que se verificava agora na Consultora. Consideravam que o sistema do MEDO era sinónimo de trabalho fácil por parte dos trabalhadores” – “tontos úteis”. Uma empresa onde se pautava pela falta de valores humanos, da qual Pablo acabou por se despedir, iniciando-se a seu verdadeiro processo de MUDANÇA.

Voltando, à mudança da SAT, verificou-se a promoção dos colaboradores, uns inclusivamente partiram para ouras empresas. No recrutamento, procura-se além de bons profissionais, “seres humanos preocupados com o mundo que os rodeava”.

A Mudança de Ignacio Lorenzo, encerrou este livro. Fulcral, também, na Mudança geral da consultora. Pelas palavras deste – “(…)  penso que a mudança será permanente”. Após realizar uma viagem proposta por Pablo e Jordi a Madagáscar, Ignacio mudou completamente o seu EU: mais feliz, mais estável, com uma nova visão da vida e do trabalho, muito menos materialista. Extinguiu-se a imagem de líder clássico de Ignacio.

Através desta personagem, conseguimos traçar, claramente a “curva” de Kübler-Ross, entrando em CHOQUE, com a contratação e ação de Pablo dentro da Consultora. De seguida, entra em negação com as mudanças implementadas, ao nível do horário e recusa-se mesmo a participar nos cursos de formação. Cada vez mais frustrado e depressivo descarrega a sua raiva e ira nos restantes colaboradores, inclusivamente descredibiliza as novas políticas de Pablo para a empresa. Depois de bater no fundo, decide seguir o conselho de Jordi e Pablo e viver a experiência de uma viagem a Madagáscar. Regressa, totalmente mudado, começa por pedir perdão pelas suas más atitudes, para com os colaboradores e integra-se e acompanha a mudança pela qual passou a SAT. Aliás, a própria viagem de Ignacio, pode-se inserir nesta curva, passando por estas mesmas fases: a negação (o querer desistir), frustração e depressão (aperceber-se da sua pessoa na solidão), decisão e experiência (autoconhecimento, assimilação da felicidade, bem-estar e paz interior, etc) e integração (carta de pedido de desculpas aos colaboradores, acompanhar a mudança na SAT). 

    


A minha experiência enquanto leitora...


        No meu ponto de vista, a obra está bem conseguida e de fácil leitura e aprendizagem, na medida em que o facto de ser aproximada a uma história torna-se menos cansativa e tem conteúdo, igualmente, pertinente e em grande volume. Dá, claramente, para inspirar um Projeto de Mudança para uma determinada empresa. Dá-nos algumas ferramentas, bastante úteis para os processos de formação e desenvolvimento dos colaboradores numa organização. Ademais, considerei a referência a um país díspar ao Capitalismo um pilar interessante para utilizar/ aplicar na Gestão de Pessoas, no sentido de uma melhor conciliação entre a sabedoria e o conhecimento típico da nossa sociedade com as essências destas comunidades. Por outro lado, o aproveitamento da “história de Pablo Príncipe”, carecia de um desenvolvimento conceptual mais aprofundado, na minha ótica.

    


Referências Bibliográficas...

 

Borja Vilaseca (2020). O Principezinho põe a gravata (3ª edição) Carcavelos: Publicações Self;
Naína Tumelero (2019). Resenha Crítica: vejas as principais características do género. Publicações Mettzer blog;
Patrícia Araújo (2023). Material de Apoio cedido pela docente no âmbito da Unidade Curricular de Gestão da Mudança. ISLA Santarém.
 


Links...



Disponível em: https://desenvolvimento-organizacional.blogspot.com/2023/02/blog-post.html


Notas pessoais...


                    Email: filipa22maio@gmail.com
                   LinkedIn: (10) Filipa (Urbano) Rodrigues | LinkedIn 
    
    Sou a Filipa Rodrigues, sou licenciada em Ciência Política e Relações Internacionais, sendo que ,atualmente, frequento o Mestrado em Gestão e Recursos Humanos no ISLA Santarém, uma área que foi despoletando interesse em mim ao longo da minha licenciatura. 






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