RESUMO
No labirinto das nossas vidas pessoais e profissionais, estamos constantemente em busca daquilo que nos traz satisfação, segurança e sentido — aquilo que Spencer Johnson metaforicamente chama de “queijo”. Em Quem Mexeu no Meu Queijo?, essa metáfora simples é usada com precisão para retratar o impacto da mudança sobre as nossas rotinas, escolhas e mentalidades. A narrativa curta e despretensiosa esconde um poder transformador que vai muito além do que aparenta à primeira vista. Ao longo desta resenha crítica, explorarei o impacto desta obra no meu desenvolvimento pessoal e profissional, a sua ligação com os conteúdos da UC Técnicas de Liderança e Comunicação, e as razões pelas quais acredito que este livro deve ser leitura obrigatória para qualquer gestor.
SOBRE O AUTOR
Spencer Johnson, médico e escritor norte-americano, construiu uma carreira baseada em comunicar mensagens complexas através de histórias simples. Reconhecido por co-autorizar O Executivo Minuto, Johnson soube traduzir os desafios da liderança, da tomada de decisão e da adaptação às mudanças de forma acessível. Quem Mexeu no Meu Queijo?, publicado em 1998, tornou-se um fenómeno global exatamente por tocar num tema universal: o desconforto com a mudança.
Num mundo que se transforma a uma velocidade vertiginosa, essa pequena parábola continua mais atual do que nunca.
RESUMO
O enredo gira em torno de quatro personagens — dois ratos (Sniff e Scurry) e dois duendes (Hem e Haw) — que vivem num labirinto em busca de queijo. O queijo representa aquilo que valorizamos: emprego, amor, segurança, saúde, reconhecimento. Quando o queijo que todos encontraram desaparece, as reações divergem.
Sniff e Scurry, guiados pelo instinto, saem imediatamente à procura de novo queijo. Já Hem e Haw, que representam a racionalidade e a complexidade emocional humana, reagem com medo e negação. Haw, no entanto, aprende com o processo e começa uma jornada de adaptação, superando o medo e mudando de atitude.
A estrutura do
livro é inteligente e eficaz. Após a parábola, há uma conversa entre antigos
colegas de escola refletindo sobre a história e sobre como ela se aplica às
suas vidas. Este recurso de metanarrativa ajuda o leitor a consolidar os
aprendizados e identificar-se com diferentes perspetivas. A grande força da
obra está na sua capacidade de provocar autorreflexão sem parecer prescritiva.
Johnson não nos diz o que fazer; ele mostra possibilidades. O leitor, então,
reconhece-se nas personagens e tira as suas próprias conclusões.
Durante a
leitura, percebi que em muitas fases da minha vida fui como Hem — resistente à
mudança, agarrado ao que me era familiar. Senti medo de abandonar “queijos” que
já não existiam, ou que já não tinham o mesmo sabor. Como Haw, só depois de
refletir e aceitar o desconforto é que consegui mudar. Esta identificação
pessoal foi um dos elementos mais marcantes desta leitura: não é apenas uma
fábula sobre mudança, é um espelho que nos convida a encarar as nossas próprias
zonas de conforto.
RELAÇÃO DO LIVRO
COM OS CONTEÚDOS DA UC
Esta obra tem
uma ligação direta com vários temas discutidos na unidade curricular de
Técnicas de Liderança e Comunicação [Gestão do Turismo (ISMAT)] - 2024/2025. O comportamento de
Hem, por exemplo, ilustra perfeitamente o conceito de resistência à mudança.
Segundo Kotter e Lewin, muitas pessoas passam pelas fases da mudança de forma
lenta e dolorosa, começando com a negação e o medo, até chegarem à aceitação.
Haw passa por esse ciclo, demonstrando que a mudança é também um processo
psicológico e emocional. Já Sniff e Scurry encarnam a ideia de agilidade e
adaptabilidade — competências cada vez mais valorizadas no mercado de trabalho
atual.
O modelo de
Lewin — Unfreeze, Change, Refreeze — é claramente visível no
comportamento de Haw. Primeiro ele descongela a sua visão de mundo, depois muda
e por fim “recongela” uma nova postura mais aberta e positiva. Esta
transformação está em perfeita sintonia com o que se espera de profissionais em
contextos organizacionais voláteis. A inteligência emocional, conceito central
no trabalho de Daniel Goleman, também se aplica aqui: Haw desenvolve
autoconsciência, autogestão e motivação — pilares emocionais que sustentam a
sua mudança de atitude.
No ambiente
empresarial, a leitura deste livro pode ser usada como ferramenta de
sensibilização para equipas em processo de mudança. A metáfora do queijo é tão
simples que permite discussões profundas sem resistência, o que é valioso em
contextos onde a mudança é inevitável, mas temida. Em processos como
reestruturações, fusões ou transições tecnológicas, esta obra pode ser um ponto
de partida para debates sobre comportamento organizacional, liderança e
cultura.
Ao refletir
mais profundamente, compreendi também que o “queijo” não é apenas aquilo que
queremos alcançar, mas também aquilo que precisamos desaprender. Muitas vezes,
a resistência à mudança vem de crenças limitadoras que cultivamos ao longo do
tempo. A história de Haw mostra como reescrever a própria narrativa é essencial
para o crescimento. A escrita que ele deixa nas paredes do labirinto funciona
como lembrete: "O que você faria se não tivesse medo?", "Cheire
o queijo com frequência para saber quando ele está ficando velho" — são
frases que, embora simples, ressoam com força.
Outra reflexão
importante diz respeito ao papel da liderança na gestão da mudança. Embora o
livro não trate diretamente de liderança, é evidente que Haw se torna um líder simbólico
quando decide mudar. Mesmo sozinho, ele deixa pistas para Hem, esperando que
este também encontre coragem. Esta atitude revela que liderar é muitas vezes
abrir caminhos para os outros, mesmo sem garantias de que nos seguirão. Essa
ideia é particularmente relevante para gestores de recursos humanos, cujo papel
não é apenas operacional, mas profundamente humano e inspirador.
A cultura
organizacional também é representada pelo labirinto. Em contextos empresariais,
o labirinto pode ser rígido ou flexível, escuro ou iluminado, cheio de
sinalizações ou confuso. Uma empresa que proporciona um ambiente onde os
colaboradores se sentem seguros para errar, aprender e tentar de novo está a
facilitar a busca por novos queijos. Por outro lado, ambientes controladores,
tóxicos ou indiferentes fazem com que muitos Hem se tornem permanentes. Assim,
esta obra pode ser lida também como uma crítica à rigidez de muitas estruturas
organizacionais.
OPINIÃO
DA LEITORA
Escolhi este
livro por recomendação de colegas e pela sua fama internacional, mas confesso
que o subestimei inicialmente. A sua aparência simplista não revelava, à
primeira vista, a profundidade da sua mensagem. No entanto, à medida que lia,
fui surpreendida pela clareza com que aborda temas tão complexos como medo,
mudança, identidade e crescimento. Foi como ouvir uma verdade óbvia que
ignoramos por conveniência: o queijo sempre acaba. A verdadeira questão é — o
que fazemos depois?
Enquanto
estudante de Gestão do Turismo, este livro deixou marcas profundas na forma
como vejo a mudança. Percebo agora que o maior desafio não é implementar novas
políticas, mas lidar com emoções, crenças e expectativas. A resistência à
mudança não é um defeito; é uma resposta humana. Mas cabe aos líderes e
profissionais da área criar contextos que favoreçam a confiança, a aprendizagem
e o movimento. Quem Mexeu no Meu Queijo? oferece, com simplicidade, um
guia emocional para esse caminho.
Em termos
práticos, pretendo usar os ensinamentos deste livro no futuro ao facilitar
formações, liderar equipas ou intervir em processos de mudança organizacional.
Quero lembrar-me sempre de observar quem são os “Hems”, os “Haws” e os “Sniffs
e Scurrys” à minha volta — não para os rotular, mas para melhor compreender e
apoiar. Esta metáfora acompanhar-me-á como uma lente adicional para interpretar
o comportamento humano em ambientes em transformação.
CONCLUSÃO
Concluo esta
resenha sentindo-me grata por ter escolhido este livro. Ele não só atendeu às
exigências académicas da UC, como também me ofereceu ferramentas de reflexão
pessoal e profissional. O “queijo” pode mudar de forma, sabor ou localização,
mas a nossa capacidade de adaptação será sempre o verdadeiro segredo para
continuar a avançar no labirinto.
SOBRE MIM
Sou estudante
de Gestão do Turismo no ISMAT, com algum
interesse em desenvolvimento organizacional e psicologia positiva. Acredito na
aprendizagem contínua e na importância de contar boas histórias para gerar
mudança.
Referências Bibliográficas
ISMAT - https://www.ismat.pt/pt/
PÁGINA OFICIAL DO AUTOR - https://www.wook.pt/autor/spencer-johnson/24252?srsltid=AfmBOoof8jpucO1HcjIg-qxzpA96t_qttO2y_5RGa9XannPYD1lMP-u5
Johnson, S. (1998). *Quem Mexeu no Meu Queijo?* Rio de
Janeiro: Record.
Lewin, K. (1951). *Field Theory in Social Science*. Harper & Row.
Goleman, D. (1995). *Inteligência Emocional*. Lisboa: Temas
e Debates.
Para Citar esta Book Review, usar:
Barbudo,I. (2025).
Queijo, Mudança e o Labirinto da Vida – Uma Book Review do Livro "Quem
Mexeu no Meu Queijo?". Book Review Orientada por PhD Patrícia Araújo no
âmbito da unidade curricular de ‘Mudança e Desenvolvimento Organizacional’.
ISMAT-Instituto Superior Manuel Teixeira Gomes.
Disponível
em: [INSERIR LINK DO BLOG AQUI]
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